Maranhão é o maior fornecedor de mão-de-obra de trabalho escravo do país

segunda-feira, 13 de Dezembro de 2010 - 10:29
Leonardo Sakamoto mostra produto feito por escravos rurais
O coordenador da Organização Não Governamental (ONG) Repórter Brasil, Leonardo Sakamoto, afirmou que o Maranhão é o maior fornecedor de mão-de-obra escrava do país, durante o último dia de oficina sobre o tema, sexta-feira, no auditório do Tribunal Regional do Trabalho do Maranhão (TRT). O evento foi promovido em parceria com Escola Judicial do TRT com a Comissão Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae), vinculada à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH/PR). As oficinas que discutem o tema acontecem desde janeiro de 2009 e são apresentadas nos 24 Tribunais do Trabalho do país. De acordo com Leonardo Sakamoto a maior concentração de trabalhadores escravo está na região Sul do estado trabalhando na agricultura voltada para grandes empreendimentos. “O Maranhão é o maior fornecedor de mão-de-obra de trabalho escravo, tanto para dentro do estado quanto para outras regiões do país. E Açailândia é um dos municípios com maior incidência de trabalhadores nessa situação, por conta da produção de carvão vegetal e do ferro gusa”, afirmou. Jornalista, doutor em Ciências Políticas e professor universitário, Leonardo Sakamoto ressaltou que o trabalho escravo não está relacionado à bondade ou maldade e sim à questão econômica. “É usado basicamente para a obtenção do lucro e facilitar a concorrência e competir no mercado. Os exploradores desse tipo de mão-de-obra gastam menos, pois não pagam salários, não investem na saúde dos trabalhadores, não garantem os direitos trabalhistas e forçam o empregado a trabalhar ao extremo”, garantiu. Trabalho escravo - O coordenador da ONG disse que, além do Maranhão, a grande concentração de trabalho escravo rural está também no Pará, Tocantins, Goiás, Mato Grosso do Sul, sendo encontrado, ainda, em outras regiões do país. O coordenador da ONG Repórter Brasil garantiu que o trabalho escravo está relacionado à economia brasileira. Ele apresentou dados sobre trabalhadores em situação análoga a de escravo resgatados em fazendas pelo Grupo Móvel de Fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), mortes de trabalhadores nessa situação e municípios brasileiros com maior incidência desse tipo de trabalho que, segundo ele, estão localizados em áreas de expansão econômica. “O trabalho escravo é uma ferramenta que ajuda na competição, reduzindo custos. E não está na agricultura familiar e sim nas grandes fazendas, naquelas cujos proprietários estão fazendo expansão”, garantiu. Produtos devem ser evitados Leonardo Sakamoto destacou que uma das estratégias criadas para fazer frente ao trabalho escravo é o Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo, lançado em 2005 e integrado por instituições como a ONG Repórter Brasil e a Organização Internacional do Trabalho (OIT). O pacto consiste em implementar ferramentas para que o setor empresarial e a sociedade brasileira não comercializem produtos de fornecedores que usaram trabalho escravo. O objetivo é isolar esses fornecedores para que não consigam vender seus produtos. Conforme dados do MTE que mantém, desde 2003, uma lista de fazendas fiscalizados e flagradas com trabalho escravo, a chamada “lista suja”, 54% da mão de obra escrava está concentrada na pecuária bovina, 16% na produção do carvão e 5% na cana-de-açúcar, café e outros produtos relacionados à agricultura. Os dados (2003 a 2009) mostram também que dos trabalhadores libertados pelo Grupo Móvel 95% são homens; 62% têm entre 18 e 34 anos; e 40% são analfabetos. Fonte: Jornal O Estado do Maranhão Dia 12.12.2010 Editoria:Geral, página 06
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